A N.O.B. e sua história

FABRICIANO JUNCAL
A NOB e sua história

Não é possível contar a história de Araçatuba, sem antes esclarecer o povo da cidade e da região sobre a Estrada de Ferro Noroeste do Brasil, o que foi e como foi construída. Ela compreendia o trecho Bauru - rio Paraná. A Companhia N.O.B. foi criada por capitais mistos, brasileiros e franco-belgas, com a concessão de garantias e juros pelo Governo Federal, em 1904, e incorporada por Teixeira Soares, Machado de Melo e Pereira da Cunha. Sua construção foi iniciada em 1905, com o trecho Bauru - Itapura. Era seu presidente Joaquim Machado de Melo, e tinha como sede o Nº. 150 da Rua do Ouvidor, no Rio de Janeiro. Embora o seu traçado inicial se destinasse a Corumbá, introduziram-lhe modificações e ela deixou de atravessar o Tietê na altura do Salto de Avanhandava. Eram seus engenheiros os Drs. Sílvio Saint Martin e Heitor Legru. Em Bauru funcionava o escritório do serviço; em 1910 a estrada alcançava Itapura, ao lado esquerdo do Tietê. Em 1908 foi inaugurado oficialmente, pelo então Presidente da República, Afonso Pena, o primeiro trecho da Ferrovia, de Bauru a Presidente Pena, hoje Cafelândia; simbolicamente, inaugurava-se também o segundo trecho, que ia até Córrego Azul, e por essa razão, todas as estações, de Cafelândia a Córrego Azul, datam de 02 de dezembro de 1908.
O que foi o avanço dos trilhos, com tropeços e obstáculos de toda ordem, a luta dramática contra a mataria fechada, o índio desconfiado e traiçoeiro, o impaludismo devastador, contam-nos os engenheiros e os velhos moradores da região. Os acampamentos e barracas que se armavam eram constantemente transportados para outros lugares, já que nessas regiões imensas e despovoadas, andavam-se léguas e léguas sem encontrar uma viva alma. Os marcos que assinalavam as picadas, os caminhos e a passagem dos homens, eram toscas cruzes funerárias encravadas em montes de pedras, e os lugares perdidos na
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imensidão sertaneja traziam a marca do temor e do perigo, na fisionomia particular das barracas dos trabalhadores, aconchegadas umas às outras como rebanhos assustados. Os caingangues, senhores absolutos desse vastíssimo sertão de mataria, antepunham-se ferozmente aos operários da estrada, e aos engenheiros, impedindo, com suas flechas sangrentas, o avanço dos trilhos. Sempre de espreita, com o firme propósito de deter o progresso do branco civilizador que invadia seus domínios nunca dantes usurpados, os índios vararam com suas flechas um grande número de engenheiros, empreiteiros e construtores, ficando célebres alguns massacres como os da Água Branca, Birigüi, Baguaçu e Araçatuba. Isso ocorreu até 1914, ano da pacificação dos índios pelo então Major Rondon.
Cristiano Olsen, quando fazia a demarcação das glebas da Fazenda Baguaçu, foi flechado juntamente com um de seus camaradas. Na Reta Grande os índios queimaram um barracão e trucidaram 5 ou 6 trabalhadores; antes da chave de Birigüi haviam chacinado uma turma de operários. Os empreiteiros tinham contratado, para lutar furiosamente contra a compacta floresta que cobria toda a região, milhares de operários, muitos dos quais tombavam vitimados pela malária ou pelos índios, quando não eram corroídos pela úlcera de Bauru (Leichemaniose).
Abandonar o serviço era impossível. "Quem entra no inferno não sai", e muitas vezes os míseros operários deparavam com o bloqueio da estrada; voltasse a pé quem quisesse. Muitos afrontaram o perigo, numa demonstração de coragem sem par, percorrendo a inóspita e deserta região infestada de bugres inclementes. De tropeço em tropeço, de queda em queda, avançava a Noroeste. Em 1910 um vagão, em Araçatuba, cuja estação era no quilômetro 280, numa clareira da mata virgem, avança sertão adentro, atingindo a barranca do Tietê no Salto das Cruzes; em 1911 atingia Itapura, no lugar onde existiu uma colônia militar, na margem direita do Tietê, a qual constituía, desde 1889, a guarda avançada do sertão.
Não consta, e nunca disso tivemos conhecimento, que o Dr. Joaquim Machado de Melo tivesse qualquer acampamento na região da Noroeste do Brasil. Conforme frisamos de início, era ele seu chefe, e não engenheiro ou empreiteiro.
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    Como poderia Miguel Caputi ter estado em seu acampamento em 1908?
Tendo como seu diretor o Coronel Horta Borbosa, e como auxiliar o então Segundo Tenente Manoel Rabelo, inicia-se em 1914 o movimento de pacificação dos índios, cuja sede ficava em Miguel Calmon. A primeira Colônia de pacificação foi construída em Heitor Legru por volta de 1916.
A Noroeste do Brasil, já com foros de uma grande linha, é encampada pelo Governo Federal em 1918, e unificada à Estrada de Ferro Itapura-Corumbá.

Fabriciano Junca/73

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